Como dar de mamar?
Consoante o acompanhamento que se tenha na maternidade, esta questão do como dar de mamar pode tornar-se mais simples ou complicada. No meu caso, tornou-se mais complicada!
Das primeiras vezes que coloquei o meu filho a mamar, não sabia ao certo: 1) quando fazê-lo, 2) durante quanto tempo e 3) como “gerir” os peitos.
1. Sobre o “quando”, acho que rapidamente as mulheres que são mães pela primeira vez se tornam peritas, pois sempre que o recém-nascido chora, a primeira tentativa a fazer é colocá-lo na mama, pois muito provavelmente será fome. A isto se chama o regime de livre-demanda, recomendado pela OMS e pela UNICEF, ou seja, não se estabelecem horas fixas para o bebé mamar. O bebé deve mamar sempre que quiser, a que hora for. Pessoalmente, recomendo a livre demanda a todas as mães que amamentam. Pensem que quanto mais vezes puserem o bebé no peito, melhor alimentado e imunizado fica o vosso bebé e mais leite vocês irão produzir. Se é frustrante no início? Sim, muito. Mas a vale a pena de montão! Fui-me apercebendo disso a pouco e pouco, e quando o meu filho completou seis meses e o iniciei nos sólidos, não me restou pinga de dúvida em como a livre-demanda foi o melhor quer para ele quer para mim. E também quando ele fez os seis meses, então sim, comecei a espaçar e a incutir-lhe os horários das refeições e das mamadas, intercalados com as sonecas, e a tentar retirar-lhe a mamada da noite (veja aqui sobre rotinas e horários).  
Mas voltando ao “quando dar de mamar”, se o bebé acabou de comer e continua a chorar, então as causas do choro podem ser outras (veja aqui).
2. Durante quanto tempo se deve dar de mamar? Bom, eu comecei, ainda na maternidade, por dar 15 minutos numa mama e 15 minutos noutra, mas rapidamente dei em doida porque assim que retirava o meu bebé da mama, ele desatava a chorar! De tal maneira que, na segunda noite que passei na maternidade, desatei eu a chorar e fui pedir ajuda à enfermeira porque o miúdo não se calava a não ser na mama e eu não conseguia dormir! Ele era capaz de ficar no peito mais de uma hora e se eu o tirava, ele chorava! E eu achava que seria por ele continuar com fome!, mas lá me fui apercebendo que era por a mama ser um conforto para ele e que ele chorava por outras razões. A enfermeira disse-me então para eu o deixar mamar 30 minutos em cada mama. Uma hora, sim! Era demais! Tentei 20 minutos em cada mama, mas ele chorava logo que saía do peito. Lá comecei a pensar que o meu leite não era bom, não tinha qualidade nem quantidade suficiente... veio a tentação de comprar suplemento. A minha sorte é que tive o meu filho no Gana, em África e aqui os pediatras realmente incentivam a amamentação, por duas razões: 1. a maioria das mães, mesmo que quisesse, não tem dinheiro para comprar leites em pó, pelo que é forçada a manter a amamentação por muito que lhe custe e seja frustrante. 2. devido às doenças associadas aos climas tropicais e aos países em desenvolvimento, o leite materno, por ser a tal “vacina de largo espectro”, é altamente recomendado para a imunização infantil.
Poderia continuar aqui a dissertar sobre a minha experiência e sobre o tempo “correcto” para dar mama ao bebé, mas a verdade é que este não existe. Na Europa, os pediatras talvez recomendem os tais 15 ou 20 minutos em cada mama, 30 ou 40 minutos no total, mas a verdade é que cada bebé é único e deve respeitar-se o ritmo de cada um. Nas primeiras semanas, o bebé demora mais tempo a mamar porque ainda não lhe apanhou o jeito, a sucção ainda não é ritmada, a posição ainda é nova para ele. Para a mamã, este período é frustrante, pois já cansada das noites mal dormidas, os dias tornam-se longos e grande parte deles dedicado à amamentação. Parece que tudo o que fazemos é andar com a mama de fora! A boa notícia é que após as primeiras seis a oito semanas, o bebé torna-se perito em mamar e irá demorar menos tempo.
Até a amamentação estar bem estabelecida, não convém dar tetinas nem chuchas ao bebé, para não correr o risco de ele rejeitar o peito. Contudo, se a mamã estiver muito cansada, eu pessoalmente recomendo que extraia leite com bomba e deixe um biberão para o seu companheiro (ou algum familiar) a poder substituir numa das mamadas da noite. Mais vale isto do que deixar o cansaço vencer e desistir do aleitamento materno!
3. Como “gerir” os peitos: também aqui parece haver uma discrepância em relação àquilo que a OMS e a UNICEF preconizam e aquilo que é realmente recomendado por alguns pediatras. Alguns médicos incentivam as mães a darem de mamar 15 ou 20 minutos em cada mama. A OMS e a UNICEF dizem que se deve “esvaziar” primeiro um peito e só oferecer o outro ao bebé se ele ainda manifestar sinais de fome*, caso contrário, deve dar-se o segundo peito na mamada seguinte e assim ir alternando os peitos em cada mamada. Isto porque o leite materno tem duas partes, uma inicial, mais aguada e ideal para matar a sede do bebé, e uma segunda mais rica em gordura, que se encontra no “fundo” do peito. Ora, se retirar o bebé para o mudar de mama, corre o risco de ele apenas ingerir a parte inicial do leite, mais aguada e menos rica. Alguns pediatras defendem que 15 a 20 minutos são suficientes para o bebé chegar ao leite “gordo” e, logo, que o bebé fica satisfeito e bem alimentado.  
Pode ser verdade, mas no meu caso, eu tentei os dois métodos e concordo mais com o do “esvaziar” um peito de cada vez porque acho que os bebés têm ritmos diferentes e se 15 ou 20 minutos são suficientes para um bebé esvaziar um peito e chegar ao leite mais rico em gordura, esse tempo pode não ser suficiente para outro bebé.
Claro que das primeiras vezes, quando ao fim de meia hora eu tirava o meu filho da mama e ele continuava a chorar, eu dava-lhe de seguida a mama número 2, pensando que ele ainda tinha fome, pelo que no início eu esvaziava quase sempre os dois peitos numa mamada só. Mas ao cabo de algumas semanas aprendi o ritmo dele e ele, por sua vez, dominou a arte de mamar, já não precisando de tanto tempo para ficar satisfeito.
E ficámos felizes “para sempre”. :-)
Uma nota: muitos pais questionam-se sobre dar ou não água ao bebé. A recomendação da OMS e da UNICEF é que, até aos seis meses, não sejam dados ao bebé quaisquer outros líquidos, seja água, chá ou sumos, pois o leite materno é 80% constituído por água, o que faz com que o bebé fique bem hidratado. Por outro lado, os bebés não desidratam tão rapidamente como os adultos, assim como não sentem o frio e o calor da mesma forma que os adultos (os bebés são mais friorentos).
Durante os primeiros meses, alguns bebés que mamam sofrem de prisão de ventre e há quem recomende dar-lhes água para ajudar a limpar o intestino. Mas, realmente, isso não é necessário. A prisão de ventre é normal em bebés de peito porque o leite materno não deixa acumular tantos resíduos no organismo e, logo, há menor necessidade de libertar fezes. Contudo, se passar mais de cinco dias a uma semana sem que o bebé faça cocó, convém falar com o pediatra. Ele poderá recomendar a introdução de água entre as mamadas, ou a administração de xarope de maçãs reinetas, ou a aplicação de um gel rectal de glicerina (por exemplo, o Bebégel).
O meu filhote foi muito preso de intestinos entre os dois e os seis meses. Se eu via que ele podia estar com dores de barriga por não fazer cocó há uma série de dias, fazia-lhe uma massagem na barriguita e estimulação rectal com a cânula do Bebégel. Com um pouco de óleo de amêndoas doces fazia movimentos circulares na barriguita e dizia-lhe, a cantar: "é a massagem para fazer cocó". Esticava-lhe e encolhia-lhe as pernocas. Depois, devagarinho, inseria no ânus a cânula do Bebégel (vazia, sem gel, e cortada no fundo da parte cor-de-rosa), mexendo-a para cima e para baixo, sempre com muito cuidado. Depois, tirava a cânula e voltava a massajar a barriga e a esticar e encolher-lhe as pernocas. Depois, voltava a inserir a cânula. E assim sucessivamente até ele fazer cocó. No início, podia demorar uns bons 15 minutos até ele fazer, mas passadas umas semanas, ele já associava a massagem e a música ao fazer cocó e já era bastante mais rápido, quase imediato.
O meu filhote só regularizou os intestinos aos seis meses, com a introdução das sopinhas. Nessa altura já lhe comecei então a dar água entre todas as refeições e mamadas.

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* De início, eu não entendia como é que o bebé mostrava sinais de fome! A única coisa que me ocorria é que o choro dele quando eu o tirava da mama seria esse tal sinal de fome. Não é fácil no início perceber os sinais de fome do bebé. Só mesmo com o passar dos meses e dá experiência. Quando a amamentação estiver bem estabelecida é mais fácil perceber se o bebé chora por fome ou por qualquer outra razão, pois ele próprio irá abrir a boca à procura do peito, por exemplo. Siga o seu instinto de mãe. Se o bebé chora, o melhor a fazer é assumir que será fome  e colocá-lo a mamar. Depois, se ele já mamou durante bastante tempo (cabe a cada mãe entender o que é tempo suficiente e se realmente viu e ouviu o bebé a sugar e a engolir o leite) mas continua a chorar, é provável que seja alguma dorzita, a fralda suja, frio, calor, ou algum outro desconforto. Se calhar, o bebé só quer colinho :-) Se desconfiar que pode ser algo mais grave, fale com o pediatra.