Tirar a(s) mamada(s) da noite


Começando por ser muito honesta, acho que não há realmente forma de “tirar” a(s) mamada(s) da noite. Quer dizer, há: deixar o bebé chorar desesperadamente até que um dia ele perceba que não há comida e decida parar de chorar. Parece-me um método cruel.
“Empanturrar” o bebé à noite esperando que ele não acorde com fome também não funciona. Isto porque, efectivamente, acabar com a(s) mamada(s) da noite é uma etapa de desenvolvimento do bebé e não uma etapa de alimentação. Há pais e mães que não acreditam nisto. Li em vários (muitos!) fóruns de Internet pais e mães desesperados, à procura de conselhos para que os filhos durmam a noite toda. Muitas respostas (a maioria para não dizer todas!) sugerem dar biberões reforçados (com fórmulas e com espessantes de leite) ao jantar ou à hora de ir para a cama para que o bebé durma a noite toda. Isto é um pouco como pensar que deitando o bebé mais tarde ele irá dormir até de manhã quando, na verdade, as crianças que têm bons hábitos de sono e se deitam cedo são aquelas que dormem melhor e mais horas. O seu bebé irá dormir a noite toda quando estiver preparado para isso, independentemente da comida ou da hora tardia de deitar. A nós, pais e mães, resta ter paciência e providenciar hábitos de alimentação e de sono seguros e saudáveis aos nossos bebés, para que eles se desenvolvam bem, fortes e saudáveis. 
Tendo dito isto, existem, contudo, formas (ou duas formas, pelo menos) de começar a reduzir o número de mamadas nocturnas até chegar a apenas uma. Mas a partir daí, resta esperar que o sistema digestivo do bebé esteja preparado para “desligar” por várias horas.
É verdade que a partir dos três meses os bebés podem começar a dormir noites inteiras. Mas para um bebé consideram-se “noites inteiras” dormir seis a oito horas seguidas. Se deitarmos um bebé às 19h00 ou 20h00 esperando que ele durma até às 6h00 ou 7h00, podemos esperar deitados! Pode haver excepções, normalmente há, mas poucas. Muitas crianças só começam a dormir longos períodos (acima de oito horas) quando entram para a escola. Chegam a casa cansadas e “apagam” quando chegam à cama, depois do banho e de jantar, o que só prova, novamente, que o sono está ligado ao desenvolvimento e não à alimentação.

Reduzir as mamadas

Para as mães que amamentam em regime de livre demanda há por vezes uma confusão em relação à redução das mamadas da noite. Vi muitos artigos que falam em “caprichar”/"reforçar" as mamadas durante o dia para que ao fim do dia o bebé esteja mais saciado e durma melhor após a última mamada. Não percebi ao certo o conceito de “caprichar”/"reforçar", pelo que tentei duas coisas:
1. Mantive as mamadas espaçadas em livre demanda (sempre que o meu bebé queria, o que acontecia mais ou menos a cada duas horas);
2. Aumentei o tempo de mamada, ou seja, oferecia ao bebé um peito, depois punha-o a arrotar e depois dava-lhe o outro peito, para que ele ficasse bem alimentado!

E duas coisas aconteceram em sequência disso:
1. Ele começou a bolçar frequentemente depois de mamar (de tão cheio que estava!)
2. As mamadas da noite não reduziram de todo!

Foi quando algures li outro artigo que me trouxe mais luz à questão das mamadas da noite. O artigo defendia “treinar” o sistema digestivo do bebé durante o dia, para que à noite se vissem resultados. Isto é: alimentar muito e muitas vezes o bebé durante o dia (seja com mama seja com sólidos) não o irá fazer dormir mais à noite. Pelo contrário: irá estar a treinar o estômago do bebé para comer mais amiúde e isso fará o bebé ter ainda mais fome de noite. Portanto, a partir dos seis meses, quando são introduzidos os sólidos na alimentação do bebé, ainda que alguns especialistas defendam a continuação das mamadas em livre demanda, é importante começar a criar rotinas de alimentação, horários espaçados com conta, peso e medida que marquem as refeições. No meu caso, o meu bebé mamava de duas em duas horas até aos seis meses. A partir daí, já com os sólidos, comecei a tentar espaçar as mamadas/refeições para três horas a três horas e meia, até chegar a quatro em quatro horas (às 6h00, 10h00, 14h00 e 18h00) para poder haver um equilíbrio entre sestas-comida-digestão-hora de brincar. Havia apenas uma excepção ao intervalo das quatro horas porque pelas 16h30 eu dava-lhe fruta ou mama (para que houvesse um lanche a meio tarde tal como havia às 10h00, a meio da manhã).
Não me agradou propriamente de início espaçar tanto as refeições, pois nem eu própria como de quatro em quatro horas (costumo comer de duas em duas ou de três em três) quanto mais deixar o meu bebé estar tantas horas sem comer! Mas a verdade é que acho que ele próprio me “indicou” que esse era o ritmo ideal para ele. Acordando cedo (às 6h00) e deitando-se cedo (às 19h00), essa rotina de alimentação fazia sentido. E mantive-a (até aos nove meses). E então sim, comecei a notar progressos durante a noite: das duas mamadas que muitas vezes o meu bebé ainda fazia, passou a fazer apenas uma. Deitava-o às 19h00 e só pelas 3h30 – 4h00 (às vezes 5h00) é que ele acordava para comer, ficando depois a dormir até às seis da manhã. Aos nove meses, como ele mudou os padrões de sono durante o dia (dormia uma sesta a cada três horas em vez de a cada duas horas), voltei a dar-lhe refeições a cada três horas. E ele respondeu bem: continuou a acordar apenas uma vez para mamar durante a noite.
Outra forma de reduzir as mamadas da noite é encurtar a sua duração (ou colocar menos leite no biberão, no caso das mamãs que preferem extrair leite para que durante a noite outra pessoa as possa substituir). Se o bebé progressivamente for mamando menos quantidade de leite durante a noite, a tendência é para ir habituando o estômago a comer cada vez menos até já não precisar de comer de todo. Confesso que nunca fui muito boa a fazer isto. Eu não extraía leite para de noite, era sempre eu que dava de mamar e nunca consegui controlar bem o tempo de forma a encurtar a mamada do meu filho. Quer dizer... acho que, no fundo, a verdade é que sempre me custou interromper-lhe a "refeição". Não tinha pressa demasiada que ele deixasse as mamadas da noite. Uma parte de mim queria sem dúvida começar a dormir noites completas, mas outra parte sabia que o leitinho é tão importante para o meu bebé, que isso logo me fazia esquecer o quão ensonada eu estava. Vinha-me à imagem o quanto é reconfortante mesmo para nós, adultos, beber uma chávena de leite morninho de madrugada, quando temos insónias, e achava que era mais ou menos essa sensação boa que o bebé tinha quando mamava de noite o leite morninho do peito. Vinha-me também à cabeça a lembrança de que o meu filho estava "rijo", robusto, saudável, sem adoecer, devido MUITO ao facto de ser amamentado a longo termo. Ainda assim, eu tinha um "truque" para tentar que ele mamasse menos: o que eu fazia era dar-lhe de noite a mesma mama que lhe tinha dado antes de o deitar, ou seja, a mama que estava mais vazia. A mama que estava mais cheia ficava para lhe dar às 6h00 quando ele acordasse (ou para extrair leite de manhã e juntar à papa). Assim, dando-lhe a mama mais vazia, sabia que ele mamava menos.
  
Portanto, pessoalmente, acredito que não há muito a fazer em relação às mamadas da noite. É mesmo ter paciência, criar rotinas saudáveis de alimentação e de sono, quer de dia quer de noite, e mentalizar-se que, quando estiver pronto, o bebé deixará de acordar. Eu, por exemplo, tinha 27 meses quando deixei os meus pais dormirem uma noite toda pela primeira vez! A minha mãe pensou que eu estava doente e passou parte da noite acordada a ir ao meu quarto para ver se eu estava com febre, se estava a respirar, se estava bem. Cuidados de mãe, não é? Todas sabemos o que isso é J