Ser pai é…

Aprender a fazer as tarefas de casa com uma só mão enquanto se segura o bebé com a outra.

Aprender a comer com o bebé num braço e o garfo noutra, ou porque o bebé está a pedir colo ou porque está a amamentar.

Comer a mil à hora porque o bebé acordou com fome mal nós pegámos no garfo para começar a almoçar.

Aprender o valor de duas horas, ou três, o tempo que dura o intervalo entre mamadas; e saber aproveitar ao máximo esse tempo. Aliás, ser pai é aprender a viver entre mamadas!

Aprender a ter o andar mais leve do mundo só para não acordar o bebé. Tirar os chinelos ou as pantufas, até, por mais fofos que sejam.

Aprender a mudar a fralda tão devagar de madrugada que nem o bebé acorda.

Aprender a fazer as coisas em tempo recorde para que o bebé não fique a chorar sozinho.

Ir buscar forças sabe Deus aonde depois de tantas noites sem dormir.

Amaldiçoar e abençoar em simultâneo o facto de se ser pai.

Olhar para o bebé e derreter-se.

Ter comichão e não coçar quando temos o bebé nos braços quase a dormir – depois de horas a fio acordado e cansado – só com receio que ele acorde.

Ficar com a audição bem aguçada de tanto (e para) ouvir o mínimo som que o bebé faz, com receio que possa estar em sofrimento.

Viver a frustração de amamentar. Aguentar essa frustração e não desistir. Ultrapassá-la por saber que o leite materno é o alimento mais completo para o bebé.

Preocupar-se com a saúde de um ser tão pequenino que depende de nós para tudo.

Ter receio de falhar a tratar do bebé, mas não ter hipótese senão continuar a fazer as coisas como se acha certo fazê-las, mesmo sem ter ideia do que se faz.

Querer desistir e não poder, porque um bebé não é um projecto que possa ficar inacabado nem um objecto que se possa devolver. Está lá, dia, noite, dia, noite, dia, noite.

Querer dormir uma noite inteira e não poder.

Desesperar com o choro do bebé quando este dura há horas a fio. E quando finalmente o silêncio se instala, o choro rebenta novamente e começa tudo de novo. E temos forças para voltar a aguentar, mesmo sem saber de onde vem essa força.

Querer a vida “pré-pai” de volta. Tantas e tantas vezes… sabendo que isso é impossível. Ver o futuro negro. Pensar “no que me fui meter? A minha vida jamais será a mesma”. E de seguida derreter-se ao ver somente o esboço de um sorriso na cara do bebé que dorme ou que acorda.

Conhecer sentimentos e emoções que nem sabíamos existir dentro de nós.

Amadurecer.

Crescer.

Sentir que nós próprios continuamos a precisar do colinho dos nossos pais e de repente já somos nós a ter que dar colinho a um ser pequenino que depende de nós.

Compreender a frustração de um bebé que ainda não pode levantar o pescoço, não pode gatinhar, não pode andar e, contudo, tem as mesmas necessidades que nós de comer (sem poder ir buscar alimento), de higiene (sem se poder limpar sozinho), de brincar (sem se poder levantar sozinho e sem ter amigos ainda), e de dormir (sem saber a que horas nem em que posição). É por isso que chora, a pedir tudo isto e muito mais. Como deve ser difícil querer fazer tudo isto e não conseguir. Mas que bom que é ter pais que o façam por ele e lhe dêem os mimos, o carinho, o conforto, o colinho que precisa.

Querer ter tempo e não o ter.

Querer sair de casa sozinho, mas ter receio que o leite que foi extraído por bomba não chegue para o bebé durante essas horas de ausência.

Querer ter intimidade com o parceiro, mas estar-se demasiado cansado ou ser interrompido pelo choro do bebé.

Tomar decisões difíceis, sem saber às vezes se as tomamos para bem do bebé ou para nosso bem… deixar chorar ou não deixar chorar, eis a questão…

Ser pai, ser mãe, é tudo isto e muito mais. Tanto mais…