Condicionantes culturais

Amamentar é um binómio biológico e cultural. Biológico porque, produzindo leite, seria normal que a mulher o desse à criança. Mas a verdade é que a cultura em que a mulher nasce e é criada, irá influenciar a sua decisão de amamentar ou não.

Existem estudos que revelam que as mulheres podem escolher não amamentar porque:
- acreditam que o seu leite não é bom/suficiente para o bebé. Aliado a esta situação surge a publicidade agressiva, o acesso fácil e a venda livre (em farmácias e supermercados) de substitutos do leite materno. Ou seja, é fácil e confortável a mulher desistir do aleitamento materno sabendo que há outras opções que alimentam o seu bebé com menor esforço, ainda que não tenham os mesmos benefícios do leite materno e custem caro, pesando quer no orçamento familiar quer na pegada ambiental, pois o desperdício de latas e de plástico é enorme!

- querem agradar ao marido. Por um lado, o companheiro não acha sensual as mamas terem leite e o facto de não poder manuseá-las como gostaria. Por outro lado, existe o mito de que a mulher fica com o peito deformado (descaído) depois de amamentar, o que também não agrada ao companheiro. Ora, se a mulher utilizar sutiãs que dêem um bom suporte ao peito durante todo o período do aleitamento materno, não há razão nenhuma para que o seu peito sofra esteticamente.

- as mulheres não se sentem confortáveis a amamentar em público. Não existindo uma cultura de amamentação, as pessoas estranham na rua, nos centros comerciais, nos restaurantes, seja onde for, ver uma mulher a dar de mamar. O truque é a mulher sentir-se bonita, sensual e poderosa quando amamenta em público. Há algumas dicas para minimizar o desconforto: pode levar consigo uma fralda para tapar o peito descoberto; pode usar tops (no Verão) com alça fácil de descair para retirar a mama; pode optar por uma blusa/camiseiro com botões, discreta de desabotoar e abotoar e que tapa o peito enquanto amamenta. Coletes ou casaquinhos de algodão com fecho fazem o mesmo efeito dos camiseiros, desde que não use nada por baixo, claro.
- o regresso ao trabalho reclama o tempo das mães. É verdade que é possível manter o aleitamento materno quando a mulher regressa ao trabalho após a licença de maternidade. Basta, para tal, extrair leite e deixá-lo com a pessoa que ficar a tomar conta do bebé. Só que, na prática, não é assim tão simples. As mulheres saem de casa cedo para trabalhar e regressam tarde, mesmo que a lei preveja algumas horas de trabalho a menos para mães a amamentar. De manhã, não há tempo para extrair leite. À noite, o cansaço vence-as. Seria fundamental ir extraindo e armazenando leite ao longo do dia, fazendo pausas no trabalho a cada duas ou três horas para esvaziar os peitos, mas nem sempre esta solução é realista. O ritmo acelerado nas empresas hoje em dia não permite estas paragens frequentes e as empresas não têm espaços próprios onde a mãe possa estar descansada a extrair leite. Seria necessário criar uma espécie de Cantinhos de Amamentação Empresariais, com lugar para a mulher extrair e armazenar leite (cadeiras confortáveis, almofadas, livros, água, e um frigorífico para guardar o leite). Infelizmente, a pressão da produtividade fala mais alto do que o valor humano de ter um bebé em casa que precisa do leite da mãe :-(
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É preciso rectificar todas as situações culturais aqui mencionadas, a fim de criar uma cultura de aleitamento materno. Os profissionais de saúde e a família são os principais alicerces da mãe que irá amamentar. A todos eles cabe elucidar, incentivar e apoiar o início e a continuação do aleitamento materno. Sobretudo a mãe e a sogra da mulher que amamenta podem ter um papel fundamental: como mulheres mais velhas, vindas de gerações em que, à partida, o normal era a mulher ficar em casa a cuidar dos filhos, a amamentá-los, elas podem servir de exemplo de boas práticas e dar conselhos pró-aleitamento materno.

Sobre os suplementos / fórmulas lácteas infantis

Não quero fazer uma apologia Anti-substitutos do leite materno. As fórmulas lácteas infantis são bastante úteis para mulheres que realmente não podem amamentar, o que acontece em casos muito específicos. O aleitamento materno pode ser impedido temporariamente se a mãe estiver sob medicação prejudicial ao bebé ou sofrer de infecções como tuberculose, varicela, ou lesões mamárias contagiosas. Nestes casos, durante o período de tratamento, a mãe interrompe o aleitamento materno, mas deve continuar a estimular a produção de leite, extraindo-o com bomba. O aleitamento materno é definitivamente impossível se a mulher necessitar de medicação constante que seja nociva para o bebé, ou se o bebé sofrer de uma doença rara, ou se a mãe sofrer de uma doença crónica, for toxicodependente, ou ainda portadora do VIH. Nestes casos, é indispensável recorrer às fórmulas lácteas infantis.
Não há dúvida que tais fórmulas, historicamente, foram uma grande invenção que ajudou a tirar da fome muitas crianças e as resgatou da morte. São úteis em casos pontuais, mas não podem tomar o lugar do leite materno. A legislação vigente deve obrigar à prescrição de receitas médicas para aquisição de substitutos do leite materno e restringir a publicidade agressiva das marcas produtoras, nomeadamente em hospitais e maternidades.
Não existindo qualquer condicionante de ordem médica, toda e qualquer mulher tem capacidade para amamentar, toda e qualquer mulher tem leite suficiente e de boa qualidade para dar ao seu bebé, desde que assim o queira e não se deixe vencer pela frustração e pelos mitos de que o seu leite não é bom.